originários da vida rural,
sobre a vida de um carroceiro negro que viveu na cidade como um precoce
ambientalista, coletando resíduos na cidade.
Um outro aspecto que me
chamou atenção e pode servir de exemplo a todos aqueles que encontraram
dificuldades, foi ele voltar para a escola com mais de trinta anos,
concluir seus estudos, prestar vestibular, fazer a faculdade de Direito
e depois OAB e a advocacia. Muitos jovens sonham em realizar o curso de
direito, sem realizar nenhuma leitura, o que evidencia seu completo
despreparo para lidar com os propósitos da justiça.
Convidado por ele fui
conhecer a Fazenda Bela Vista, que havia organizado uma deliciosa
cozinha com culinária caipira, que atendia aos finais de semana, onde
almoçamos mais de uma vez. Nessa fazenda seu Chico nasceu, guardava em
uma gaveta da barbearia uma fotografia das casas da vila dos moradores,
imigrantes como seus pais. Pude conhecer a senzala desta fazenda e
outros equipamentos usados no trabalho escravo do período, ainda não
consegui checar uma informação sobre a cidade ter sido a maior cidade em
escravos do estado de São Paulo.
Conheci cachoeiras, conheci
o restaurante de peixes na beira do rio Mogi e com deliciosas modas de
viola muito bem tocadas e a curiosa presença de um periquito solto que
caminha sobre as mesas, um lugar inesquecível. Uma cidade potencialmente
ecológica que desperdiça sua natureza com estímulos ao consumo e pouco a
vida saudável.
Passei horas e domingos, na
barbearia ouvindo-o declamar poesia para mim e alguns amigos que vieram
visitar a cidade e os levei a barbearia para ouvirem o Chico declamar.
Tinha muita atenção as novidades, muito respeito pelos poetas e músicos
e mais ainda aos que se dedicavam a poesia. Centenas de crianças hoje
adultas, muitos pais, ouviram seu barbeiro declamar, um estupendo
exercício de memória que a juventude sequer experimentou, viciados que
são com sua muleta chamada celular.
A barbearia que deveria ser
tombada pelo patrimônio imaterial da cidade e da cultura popular, se
tornando uma biblioteca especialmente direcionada aos amantes da poesia
de qualquer origem, idioma e opção política. Ao amigo de ternuras
delicadas essas lembranças que podem ser anotadas nas palavras do poeta
Carlos Drumond de Andrade: Se procurar bem você acaba encontrando. Não a
explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável) da vida.
Para
ouvir e guardar:
https://www.youtube.com/watch?v=Td39HNnswpU
*Texto gentilmente escrito e enviado ao DESCALVADO
NEWS por Rubens Aparecido dos Santos,
professor da rede estadual e municipal em São Paulo e amigo fraterno do
Seu Chico.
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