Após um incêndio provocado por ações humanas, em 2007, a mata ciliar de um
rancho em Descalvado, às margens do Rio Mogi Guaçu, foi destruída, restando
53 árvores de 13 espécies. Pesquisador da Embrapa e consultora da área
ambiental, ambos engenheiros florestais, trabalharam para recuperar as suas
funções ecológicas e utilizá-la economicamente para a produção de frutas para
subsistência de pequenos produtores e, em conjunto, servir de subterfúgio para a
fauna.
A mata ciliar ou Área de Proteção Permanente (APP) é a última e mais
eficiente barreira de proteção dos cursos d’ água por que retém o solo
erodido, poluentes químicos (pesticidas) e biológicos (principalmente
fungos e bactérias). O principal objetivo era a sua restauração e a
melhor maneira de atingir este objetivo é fazendo a diversificação
máxima possível. Desta forma foram cumpridos os objetivos ambientais
além de proporcionar ao proprietário uma renda ou fonte de alimentação,
explica o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Laerte Scanavacca Jr.
“Plantamos 48 espécies de 28 famílias entre árvores e arbustos, todas
perenes, das quais 23 são nativas, sendo 19 da Mata Atlântica, e 25 são
exóticas, Cerca de nove mudas foram plantadas por espécie, totalizando
429 mudas”, diz o pesquisador.
PROCESSO
A área de estudo, de transição entre Mata Atlântica e Cerrado, foi
tomada por capim colonião com 3 m de altura. As espécies que foram
plantadas tinham objetivos básicos - frutos para consumo humano; abrigo
e alimentação para fauna, e uso medicinal e madeireiro. Aos 4 anos, a
altura média das árvores foi superior a 2m e a sobrevida média foi de
mais de 65%. O custo da implantação foi de R$ 31.864,00/ha.
Conforme Maria de Fatima Adorno, consultora ambiental, a restauração
ecológica deve considerar os aspectos ecológicos, econômicos e sociais.
A regeneração da floresta, após uma perturbação natural ou causada pelo
homem ocorre pelo recrutamento do banco de sementes e mudas ou pela
contribuição das árvores remanescentes com a chuva de sementes. Porém,
se no banco de sementes houver espécies invasoras mais agressivas e com
desenvolvimento inicial mais rápido, como é o caso das plantas C4,
plantas com taxa de crescimento muito rápido, normalmente gramíneas, que
crescem bem mais rápido que as espécies florestais, a regeneração
florestal fica comprometida.
O Rancho Pirajussara está localizado na fazenda chamada “Santa Luzia”,
que cultiva exclusivamente cana-de-açúcar. A propriedade possui sete
minas d’água, com drenagem permanente, independentemente do período de
estiagem, o que a torna autossuficiente para a irrigação de mudas
plantadas principalmente no outono e inverno.
Onde o solo estava desprotegido porque as árvores ainda eram pequenas,
foi plantada uma espécie de leguminosa herbácea para proteger e
enriquecer o solo fixando nitrogênio. Para a sobrevivência das mudas na
estação seca, elas eram irrigadas duas vezes por semana, até a chegada
das primeiras chuvas.
Não há diferença estatística entre os três grupos de espécies para o
número de mudas, porcentagem de sobrevivência ou altura das plantas,
significando que os três grupos são estatisticamente equilibrados,
explica Scanavacca. “A intenção era a diversificação máxima, pois
tornava mais eficientes os processos de reabilitação de áreas
degradadas, explica o pesquisador. Quanto mais próximas geneticamente,
maior a competição entre as espécies maior é a suscetibilidade a pragas
e doenças, o que reduz a produtividade ou sobrevivência”.
Mesmo com o plantio de espécies exóticas, a restauração florestal tende
a se aproximar da floresta secundária ao longo do tempo devido a
melhorias no microclima e migração de espécies nativas. As modificações
abióticas realizadas pelas espécies plantadas promovem as condições
necessárias para a colonização das espécies nativas. Atributos
funcionais são alcançados em cerca de 40 anos, enquanto a diversidade de
espécies precisa de aproximadamente 70 anos.
O grupo de outras espécies (Lecythis pisonis, Paubrasilia echinata,
Handroanthus serratifolius etc.) apresentou desempenho intermediário na
sobrevivência e na altura média das plantas. As espécies que atraem a
fauna (Pouteria caimito, Pachira aquosa, Mauritia flexuosa etc.),
tiveram piores percentuais de sobrevivência e altura média. São espécies
sem tradição de viveiro e com baixa disponibilidade de sementes,
geralmente as sementes dessas espécies são colhidas de poucos indivíduos
e com alto índice de endogamia, o que se refletiu em seu desempenho.
*Fonte: Embrapa
|