Presente no Brasil desde o período da colonização, quando foi trazida pelos
portugueses, a viola é o instrumento musical mais representativo da cultura do
interior paulista. Seus acordes embalaram as crônicas do povo do campo - seus
afetos e amores, sua relação com a terra e sua religiosidade - e serviram de
base para um gênero musical muito popular no País: a música sertaneja. E o tempo
só serviu para reforçar sua importância na identidade cultural brasileira - uma
tradição que é reverenciada pelas antigas e novas gerações, por homens e
mulheres.
Neste final de semana, o Sesc Rio Preto evidencia a importância desse
instrumento musical para a cultura brasileira com o projeto "Nos Braços
da Viola". Por meio de três shows, a programação (que teve início nesta
sexta-feira e segue até amanhã) mostra a versatilidade da viola caipira
na música, que flerta até mesmo com o rock.
Entre os destaques da programação, a jovem descalvadense Carol Viola, de
18 anos, é um dos exemplos da presença feminina na viola caipira. No
Sesc, ela divide o palco neste sábado (29) ao lado da dupla Craveiro &
Cravinho, uma das referências da moda de viola do interior paulista. O
show acontece a partir das 20h30. "Comecei a aprender a viola caipira
aos 12 anos com o violeiro Mário Perna, que é primo de Inezita Barroso
(1925-2015). Ele comandava a orquestra de violeiros de Descalvado, e o
meu pai sempre me levava para assistir aos ensaios. Foi assim que me
apaixonei pela viola", explicou Carol.
Para ela, a viola é tudo em sua vida. "Não sei mais o que é a viola e o
que é o meu coração. Até canto isso em uma das minhas músicas. É um
instrumento que tem uma representação muito forte na minha vida."
TRADIÇÃO - Para o jornalista, professor e escritor Romildo
Sant'Anna, autor do livro "A Moda é Viola", qualquer iniciativa tomada
em torno desse instrumento musical deve ser comemorada, pois a viola
caipira reflete "as raízes mais profundadas da cultura brasileira". "Ela
chegou ao Brasil com os portugueses, foi usada na catequização pela
Companhia de Jesus e perdura até os dias de hoje. A viola está espalhada
por todo o País, e em cada região ela carrega alguma particularidade."
Violeiro mineiro radicado em Rio Preto, onde mantém uma loja de
instrumentos musicais, Enúbio Queiroz, de 75 anos, foi um dos
responsáveis pela popularização do ensino da viola caipira. Seus cursos
em livros e vídeos são acessados por pessoas de diferentes idades e seus
discos trazem interpretações que vão para além da tradição.
"No meu primeiro disco, lançado em 1985, eu toquei, por exemplo,
'Minueto em Sol Maior', do Beethoven. Até os anos 1980, os violeiros
eram mais focados na tradição. Hoje, há inúmeras técnicas clássicas
ligadas ao universo da viola caipira, que virou até disciplina em
faculdade de música", declara Soares, que vai encerrar a programação de
"Nos Braços da Viola", no domingo (30), apresentando-se ao lado do
violonista Nilson Toledo. Sobre o show, ele conta que o repertório
mescla músicas instrumentais e canções.
O violeiro e professor destaca que a viola está nas mãos das novas
gerações. "Principalmente das mulheres, que estão cada vez mais
presentes no universo da viola caipira", enfatiza.
*Com informações de
Diário da Região
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