Nos vídeos recebidos, além de uma grande quantidade de chamas no
canavial, é possível ver um homem trajando
roupas parecidas com o uniforme da empresa, caminhado ao lado do
canavial. Logo atrás dele, haviam várias chamas se alastrando. Segundo
o autor dos vídeos, o homem que aparece nas imagens estaria ateando fogo de forma
proposital no canavial que faz fundos com a sua residência.
A reportagem do
DESCALVADO NEWS foi até o local e encontrou vários moradores
defronte as residências da Rua Elias Stefani, no Bairro Novo São
Sebastião, assustados com a altura e a quantidade das chamas.
Duas senhoras que preferiram não se identificar, disseram estar
cansadas com os constantes incêndios que ocorrem naquele local.
De acordo com as moradoras, este ano é a terceira vez
que este tipo de incêndio ocorre próximo das suas casas.
Já próximo
do cruzamento da Rua Elias Stefani com a Rua Carlindo Boller
Kastein, o diretor de jornalismo do
DESCALVADO NEWS, Mário Zambelli, avistou um veículo com o adesivo da Usina Ferrai, no
final da Avenida Luiz Alton. Ao dar meia volta e se aproximar do
veículo, também foi possível avistar um caminhão pipa estacionado na Rua
Guilherme Biazolli, com o motorista em seu interior. Neste mesmo
instante, um homem desceu do VW/Gol da empresa, portando um
equipamento parecido com um lança chamas.
Ao perceber que
estavam sendo filmados, o motorista do Gol também desceu do
veículo e veio em direção ao repórter, que indagava se eles
tinham conhecimento de que atear fogo no canavial é um crime
ambiental. Justificando-se que tratava-se de combate ao fogo, e
não de um incêndio que estaria sendo provocado, o funcionário de
nome João, surpreendentemente, tentou agredir o jornalista,
desferindo um golpe e acertando o celular que fazia a filmagem de
toda a ação. O aparelho eletrônico chegou a cair no chão, porém não
desligou, o que permitiu a retomada das filmagens.
Foi neste
instante que o outro funcionário que portava o lança chamas
rapidamente recolheu o equipamento e se evadiu do local, sendo
resgatado por um outro Gol da Usina, que deu meia volta e foi
embora. Concomitantemente, o caminhão pipa que estava parado se
deslocou em direção ao canavial e passou a receber “orientações” para
combater o fogo.
Uma viatura da
Polícia Militar foi acionada e registrou um Boletim de
Ocorrência por agressão contra o jornalista. Um terceiro Gol da
Usina Ferrari e mais dois caminhões pipa também chegaram
posteriormente no local.
USINA NEGA TER
PROVOCADO O INCÊNDIO – Durante o atendimento da PM, teve início
uma pancada de chuva que ajudou a diminuir o fogo no canavial.
Neste mesmo instante, dois diretores da Usina Ferrari chegaram
no local e um deles aceitou falar com o
DESCALVADO NEWS.
Breno Alves
Luporini Ruiz, supervisor de produção agrícola da Usina Ferrari,
negou que o incêndio tivesse sido provocado pelos funcionários
da Usina Ferrari. “Não, nós não usamos a prática de incêndio pra
colheita de cana-de-açúcar, a aproximadamente quatro ou cinco
anos”, disse ele.
Segundo o
supervisor de produção, o canavial que estava queimando pertence
à Fazenda São Sebastião do Paraíso. Questionado sobre as
denúncias de que em outras oportunidades o local também já havia
sido tomado por incêndios, Breno disse que isso acontece por ‘badernismo’.
“Esse incêndios acontecem por algumas pessoas que realmente não
tem a noção do perigo que pode acontecer um incêndio, e virem
aqui por puro badernismo e colocar fogo na cana”, respondeu ele.
“Nós não temos
essa prática! É muito prejuízo pra Usina queimar a cana numa
época dessa. É uma cana que ainda não estava pronta para a
colheita, então de origem desconhecida, ou criminoso ou é algum
tipo de acidente como raio ou coisa assim”, ratificou Breno
Ruiz.
Perguntado
também se seria possível uma única pessoa causar diversos focos
de incêndio em um mesmo local, apenas por vandalismo [que é o
que as imagens recebidas pelo
DESCALVADO NEWS
demostram], Breno
respondeu que por alguma razão, algum desconhecido teria dado
início ao incêndio. “É... uma pessoa, ela pode atear fogo,
porque se você encontrou vários focos de incêndio, quer dizer
que o incêndio não partiu de um lugar e queimou toda a quadra de
cana. É que justamente, alguma pessoa por alguma razão
desconhecida, ateou fogo no canavial”, explicou.
Sobre a agressão
do funcionário da Usina contra a reportagem do site, Breno
preferiu não se manifestar ao ser perguntado se este é o
procedimento operacional padrão da empresa. “É complicado eu
falar disso porque eu não estava aqui no momento. O que eu posso
adiantar, é que o funcionário chegou, a situação é uma situação
completamente delicada, porque você pode ver que nós temos casas
aqui, ao lado do incêndio, e isso pode acarretar em um problema
maior. O funcionário estava aqui trabalhando assim como você, e
em relação a agressão ou não, eu não posso te falar nada”,
justificou.
Por fim, o
representante da Usina Ferrari disse que a empresa gasta hoje R$
1 (um real) por tonelada de cana colhida, especificamente no
combate à incêndios. “Nós mantemos equipes de plantão em
Descalvado, Pirassununga, Santa Rita, Tambaú e Santa Cruz das
Palmeiras. Nós recolhemos cerca de 45 a 50 por cento da palha
que fica no canavial, nós recolhemos para a geração de energia”,
concluiu ele reafirmando que 100% da colheita de cana de açúcar
feita pela Usina Ferrari hoje é mecanizada.
LEI PROÍBE QUEIMA
DA PALHA DA CANA EM TODO ESTADO DE SP – Uma lei estadual proíbe
a queima da palha da cana de açúcar em todo o Estado de SP,
salvo em condições especiais, com autorização da Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
A Usina Guarani,
uma das maiores produtoras de açúcar do País, foi condenada em
primeira instância a pagar multa de R$ 4,2 milhões por queima
ilegal da palha de cana-de-açúcar na região de Barretos,
interior paulista, entre 2010 e 2014.
O juiz Carlos
Fakiani Macatti acatou a tese da responsabilidade objetiva para
condenar a usina, mesmo sem a comprovação de que deu causa ao
fogo. A ação foi iniciada em 2015 a a sentença foi divulgada na
quarta-feira, 11. O incêndio ocorreu quando a queima da cana
estava proibida na região por resolução da Cetesb.
A usina alegou que
não deu causa ao incêndio, mas o juiz entendeu que a empresa se
beneficiou, pois colheu e processou a cana queimada. O Grupo
Tereos, detentor da Guarani, informou que não teve qualquer
responsabilidade pelo incêndio e vai entrar com recurso contra a
decisão.
A empresa informou
que, desde 2007, cumpre o Protocolo Agroambiental que
estabeleceu o fim da queima da cana para o corte. Na Guarani,
praticamente 100% da colheita já é feita de forma mecanizada.
|